O luto

Ao longo da vida, muitas vezes passamos por momentos de perdas, que geram emoções e alterações no funcionamento psíquico e são responsáveis pelo chamado “processo de luto”.

Dessa forma, pode-se definir “luto” como uma perda significativa, seja em razão do falecimento de alguém, seja por circunstâncias como o término de uma relação na qual havia muito envolvimento afetivo, como o desemprego, como a mudança de domicílio – quando talvez precisemos trocar toda nossa rede de amizades –, entre outras.

“Luto”, então, é toda perda significativa, em que havia envolvimento, doação, entrega e rotina; por não ter mais o ser ou o objeto querido, o psiquismo percebe a falta: algo está ausente ou não será mais alcançável.

Imagina investir uma parte de si em uma relação, colocar nela o que acredita, empregar tempo, atenção, às vezes abrir mão do que gostaria em função do outro ou daquilo que deseja e, em dado momento, perceber que tudo ruiu… Esse desespero emocional se deve à perda, ao fato de perceber que houve uma mudança brusca no “status quo”, e com tal “falta” não sabemos – ainda – lidar.

Apesar das dificuldades, é preciso considerar o luto como um processo humano normal e natural, uma vez que todos passam por ele: o sofrimento pela perda de algo muito importante em nossas vidas faz parte do amadurecimento humano. Sabe-se, porém, que o “processo de luto” varia de indivíduo para indivíduo e de situação para situação: alguns resolvem com mais facilidade, enquanto outros demoram um pouco mais. Não há, pois, uma regra fixa para determinar o tempo necessário para a elaboração do luto.

Em um “processo de luto”, muitos podem experimentar, por exemplo, alterações do sono e do paladar, inapetência ou, ao contrário, compulsão por comida, angústia muito grande no peito, ansiedade e depressão, perdendo a vontade de viver e a capacidade de ter esperança ou de realizar sonhos e desejos. Tudo isso gera medo e frustração, e algumas pessoas passam até mesmo a ter alucinações, como ver vultos ou ouvir vozes. Em tais casos, o “processo de luto” – natural a todo ser humano – pode se tornar uma “psicopatologia”, termo empregado para se referir a sintomas de doenças mentais que precisam ser tratadas.

Como afirmado, o tempo de luto é variável, mas sua elaboração é necessária para que possamos dar continuidade à vida. Às vezes, sozinhos não conseguimos elaborar a perda e, nesse caso, podemos contar com o auxílio de psicólogos para orientar e conduzir um tratamento até que voltemos a viver com qualidade.

Quando o luto gera sintomas físicos, como insônia, choro compulsivo, pensamentos de morte e/ou crises de ansiedade (palpitação no peito e falta de ar, por exemplo), é necessário também o acompanhamento médico psiquiátrico para cuidar do transtorno mental (entenda-se “transtorno” como uma fase, um momento, que pode passar, desde que seguidas as orientações de todo o tratamento).

Assim, o psicólogo e o médico psiquiatra são profissionais qualificados para auxiliar no “processo de luto”: enquanto o psiquiatra trata os sintomas físicos, o psicólogo ajuda na elaboração da perda.

O luto passa, mas enquanto isso não acontece, pode haver muito sofrimento psíquico. O importante é lembrarmos que não precisamos passar por tudo sozinhos, a ajuda profissional, muitas vezes, torna-se um aporte necessário e bem-vindo: afinal, todos merecemos ser cuidados e ter qualidade de vida.


Edmilson José Pazinato Carlos
Psicólogo
CRP 06/123291

2 thoughts on “O luto

  1. Isadora Alcântara says:

    Boa noite,
    Muito bom o artigo, me identifiquei bastante.
    Uma dúvida: é possível passar por um processo de luto antes que ele seja concretizado? Ex: membro da família com doença prolongada: o processo de luto pode ser vivido mesmo antes da morte? Isso o torna mais complicado?
    Obrigada.
    Isa

    • Ed Pazinato says:

      Ola!
      Quando tratamos de luto, é inevitável pensarmos que houve um trauma, e desse trauma decorrem os processos psíquicos.
      O que se vive antes do trauma acontecer é uma grande angústia, originária de uma forte tristeza, uma imensa melancolia pela ameaça da perda de algo.
      Quando alguém vai pra cuidados paliativos, por exemplo, sabemos que o trauma vai acontecer, então ficamos ansiosos. Somos preparados com o tempo pra lidar com a perda.
      Então, muitos sentimentos negativos podem acontecer, um deles é o desapego de algo amado e protegido. Isso gera dor. Quando acontece a perda/trauma, sentimos menos os processos do luto, mas ainda assim sentimos.
      At.te
      Edmilson Pazinato

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