Ciúme

Ciúme patológico: uma análise do fenômeno e estratégias para lidar com ele.

O ciúme é uma emoção humana comum e natural que surge quando alguém percebe uma ameaça ou perda potencial em relação a algo ou alguém que considera importante. No entanto, quando esse sentimento se torna excessivo, controlador e prejudicial para o bem-estar emocional e relacional, ele é denominado “ciúme patológico ou doentio”.

Trata-se de um transtorno psiquiátrico no qual a pessoa desenvolve um ciúme extremo e delirante em relação ao seu parceiro ou parceira. Esse ciúme, também conhecido como “Síndrome de Otelo” – nomenclatura decorrente da peça de teatro Otelo, escrita por William Shakespeare no início do século XVII, que narra a história do personagem Otelo, um general mouro no exército veneziano cuja mente foi dominada pelo ciúme doentio em relação a sua esposa Desdêmona, culminando em uma tragédia –, é irracional e persistente, mesmo diante da ausência de evidências concretas de infidelidade por parte do parceiro.

O ciúme patológico é impulsionado por uma insegurança profunda e uma necessidade exagerada de controle sobre o parceiro, amigos ou outros entes queridos. As origens desse tipo de ciúme podem variar, incluindo experiências passadas de traição ou abandono, baixa autoestima, problemas de confiança e crenças distorcidas sobre relacionamentos.

Uma das principais características dele é a vigilância constante do parceiro, com a busca obsessiva por provas de traição ou infidelidade, mesmo na ausência de qualquer motivo real para suspeitas. Tal comportamento pode sufocar o relacionamento, criando um ambiente tóxico de desconfiança e ansiedade, além de levar a atitudes coercitivas, como a imposição de restrições ao parceiro, a tentativa de isolá-lo socialmente e a manipulação emocional para mantê-lo sob controle.

Lidar com o ciúme patológico exige uma abordagem cuidadosa e compreensiva. Tanto a pessoa que experimenta o ciúme excessivo quanto o parceiro afetado precisam estar dispostos a trabalhar em conjunto para superar esse desafio. Algumas estratégias úteis incluem:

1. Comunicação aberta: a comunicação é fundamental em qualquer relacionamento. É importante que ambas as partes expressem seus sentimentos e preocupações de maneira clara e respeitosa. O parceiro afetado deve demonstrar empatia e tentar compreender as emoções subjacentes.

2. Busca por ajuda profissional: em alguns casos, é indicado um acompanhamento terapêutico, que ajudará a pessoa a identificar as causas, reconhecer sua patologia, treinar habilidades para lidar com os gatilhos e melhorar as relações sociais. E, quando necessário, fazer uso de medicação.

3. Desenvolvimento da autoestima: a pessoa que experimenta ciúme doentio pode se beneficiar ao trabalhar na construção de sua autoestima e autoconfiança. Quanto mais confiante alguém se sente, menos será consumido por pensamentos de inadequação ou medo de perder o parceiro.

4. Estabelecimento de limites: é importante estabelecer limites claros no relacionamento para garantir que ambos os parceiros tenham espaço e liberdade para se expressarem individualmente. Ter confiança no parceiro e respeitar sua privacidade é essencial para uma relação saudável.

5. Praticar a empatia: ambos os parceiros devem praticar a empatia, tentando se colocar no lugar do outro para entender suas perspectivas e sentimentos. Isso pode fortalecer o vínculo emocional e promover uma relação mais equilibrada.

Em suma, compreender suas causas e características do ciúme patológico é o primeiro passo para superá-lo. Através da comunicação aberta, busca por ajuda profissional, desenvolvimento da autoestima, estabelecimento de limites e prática da empatia, é possível lidar de forma saudável e equilibrada, assim como impedir consequências mais graves.

Cristina A. Silva
Psicóloga
CRP 06/44940

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