Em nossa rotina atribulada, cheia de compromissos e afazeres, tem sido cada vez mais comum as pessoas se queixarem de “burnout”. O que muitos não sabem é que os sintomas podem não estar ligados ao “burnout”, mas sim ao “boreout”. Vamos descobrir as diferenças?
O termo “burnout” deriva do inglês “to burn” + “out” e está ligado ao esgotamento. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças, na CID-10 já constava, sob o código Z73.0, o diagnóstico “esgotamento” (tradução oficial de “burnout”), seguido de uma explicação breve: “estado de exaustão vital”. Em 2022, entretanto, a “síndrome de burnout” foi incluída na CID-11, alterando-se o código para QD85, e passou a ter uma explicação mais detalhada: “Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões: 1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento da distância mental do trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e 3) sensação de ineficácia e falta de realização”.
Essa mudança é relevante porque passa a relacionar a doença ao trabalho e não mais ao trabalhador, ensejando modificações no papel da empresa na prevenção e combate, assim como nas questões legais, nas obrigações dos empregadores e nos direitos dos empregados. Em outras palavras, o descritor do código QD85 ressalta que “burnout refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida”.
Quanto aos sintomas, os mais relevantes são: cansaço físico e mental, dificuldade para se concentrar, negativismo, frustração, agressividade, isolamento social, alteração de humor e apetite.
A causa está associada ao ambiente de trabalho, que pode influenciar de maneira positiva ou negativa na saúde mental, e alguns tipos de estressores contribuem para o aparecimento da “síndrome de burnout”. O estresse pode decorrer de fatores ambientais (temperatura, iluminação, ruído, higiene, segurança, sobrecarga, expectativas, burocracia, falta de autonomia, injustiça, comunicação ineficiente, conflitos, baixa remuneração, entre outros) e/ou individuais (depressão, ansiedade, doenças psicossomáticas, abuso de substâncias psicoativas, competitividade, baixa tolerância à frustração, pessimismo, perfeccionismo, necessidade de controle excessivo, entre outros), sempre associados ao ambiente de trabalho.
Vale lembrar, entretanto, que o estresse, quando compreendido e controlado, pode ser positivo, pois prepara o organismo para lidar com situações difíceis da vida; porém, caso não seja compreendido e esteja constantemente presente, contribui para surgimento de doenças, como o “burnout”.
Já o termo “boreout” deriva do inglês “to bore” + “out” e está ligado ao tédio, causado pela falta de expectativas e de motivação no trabalho.
A pessoa com “boreout” se mostra desanimada, insatisfeita, sem ânimo para seguir adiante, faz apenas o necessário para não perder o emprego e exige pouco de si mesma.
As principais causas da “síndrome de boreout” se relacionam ao fato de ter pouco trabalho, realizar as mesmas atividades, desenvolver pouco as suas habilidades, falta de reconhecimento, possuir condições precárias de trabalho, sofrer limitações ao dar ideias inovadoras, exercer funções que não se adequam a sua qualificação, ter menos responsabilidades do que poderia, por exemplo.
Embora esteja relacionada ao trabalho, a “síndrome de boreout” ainda não foi inserida na Classificação Internacional de Doenças entre as doenças ocupacionais. Isso traz implicações, já que o portador da “síndrome de boreout” não goza das mesmas garantias trabalhistas que o portador da “síndrome de burnout”, ainda que, evidentemente, possa se valer de outras proteções da legislação em geral.
As diferenças ficam mais visíveis quando esquematizadas no seguinte quadro:
Alguns sintomas comuns à “síndrome de burnout” e à “síndrome de boreout” são: alteração da pressão arterial, insônia, irritabilidade, doenças de pele, instabilidade psíquica, que pode se manifestar na forma de depressão, ansiedade, pânico e fobia.
O tratamento, tanto para a “síndrome de burnout”, quanto para a “síndrome de boreout”, consiste em psicoterapia, atividade física, exercícios de relaxamento, mudança do estilo de vida, além de medicação, quando necessário.
Cristina A. Silva
Psicóloga
CRP 06/44940
Gostei de saber… Eu só tinha ouvido falar em “burnout”. A “síndrome de boreout” parece se aproximar de um quadro depressivo… Pode ser afirmado que a diferença entre “boreout” e “depressão” é o fato de aquela estar ligada ao trabalho (ainda que não seja considerada doença ocupacional)? Abraço!
Boa tarde Érica
A Depressão é uma doença e Boreout uma síndrome. A doença tem causa definida, enquanto a síndrome é uma condição quase sempre sem causa.
Desta forma, podemos atribuir os sintomas a uma resposta negativa à atividade ocupacional e que pode causar a doença (depressão).
Espero ter esclarecido sua dúvida e agradeço o contato.
Abraço
Cristina